"Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas." (Fernando Pessoa)
Desisto
Já não escrevo mais cartas de amor, pois elas são sinceras demaisElas me mostram mais do que eu realmente devia
Para quais motivos frasearei alguém em meus versos?
Quantas palavras usarei em vão?
Já não escrevo cartas, de amor ou de cobranças
Os remetentes não se encontram mais onde deviam
Os selos já não valem mais com meus carimbos
Desisti de escrever cartas e versos
Não entendo o que se escreve,
Ou para que me escrevo
Os garranchos em mim já se tornam propositais
Letras se misturam entre as outras, se unem em protesto
Rasgam-se folhas, amassam as palavras, divorciam os sentidos
Não escrevo mais cartas de amor
Meus envelopes estão pequenos para a carta
Não querem servir para acolher palavras
Penso em outras formas, mas todas são quadradas
Penso nas cartas, pois não quero outro jeito
Não quero engarrafar minhas palavras e jogá-las ao mar
Quero uma correnteza, um destino, uma certeza
De ontem em diante, já não escrevo cartas de amor